terça-feira, 24 de abril de 2012

A economia verde

Por Brasil Econômico - Miguel Setas, vice-presidente de Distribuição e Inovação da EDP no Brasil
Os últimos dias foram férteis em notícias que dão conta de uma crescente implantação da chamada "economia verde". O mais recente relatório da ONG Pew Charitable Trust, divulgado na semana passada, revelou que, apesar da crise financeira internacional, os investimentos em energia renovável atingiram US$ 263 bilhões, mais 6,5% do que no ano passado.
A capacidade instalada de energia solar, eólica, Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), biomassa, geotérmica e das marés já atinge 565 GW, ou seja, cerca de cinco vezes toda a capacidade energética instalada no Brasil.
Em 2011, foram adicionados no mundo 83,5 GW de nova capacidade.
Pela primeira vez, a energia solar liderou os aportes com US$ 128 bilhões, mais 44% do que em 2010. O montante permitiu que fossem instalados 29,7 GW. As usinas solares somam 73 GW em operação.
Já a energia eólica viu os investimentos recuarem 15% para US$ 72 bilhões, o que permitiu a instalação de 43 GW. A energia eólica continua a fonte renovável com maior capacidade instalada, 239 GW dos 565 GW totais.
Os Estados Unidos reassumiram a liderança dos investimentos renováveis, que tinham perdido para a China, em 2010. O Brasil também apareceu bem classificado, na décima posição, com um investimento total em energias limpas de US$ 8 bilhões, mais 15% do que no ano anterior.
Mas o grande destaque brasileiro foi para o crescimento da capacidade renovável instalada (sem contar com as grandes hidrelétricas), nos últimos cinco anos (desde 2006). Foram 49%, apenas ultrapassados pelos 92% da China e os 85% da Turquia.
Aliás, o Grupo EDP deu algum contributo para este crescimento, inaugurando recentemente o parque eólico de Tramandaí (com 70 MW), no Rio Grande do Sul, que marcou a virada do primeiro GigaWatt (1000 MW) de energia eólica no Brasil.
E assim a "economia verde" cresce "de vento em popa". A própria Organização Mundial do Trabalho (OIT) estima que devem ser criados 25 milhões de novos "empregos verdes", até 2030. Hoje, este setor emprega menos de 3 milhões de pessoas em todo o mundo.
Os próximos 20 anos devem, então, quase decuplicar o número de "empregos verdes" existentes.
No Brasil, na contramão, surgiram as novas regras da Fundação Nacional do Índio (Funai), em vigência desde março, que alteraram os procedimentos de análise de grandes obras de infraestrutura e que voltam a dificultar o licenciamento ambiental de usinas hidrelétricas em terras indígenas, em um país que ainda possui 70% do seu potencial hidrelétrico por aproveitar.
A realidade é que a matriz elétrica brasileira é das mais limpas do mundo: mais de 86% da energia gerada é proveniente de fontes renováveis, valor muito superior à média mundial de cerca de 20%, como mostra o Instituto Acende Brasil, no seu último White Paper.
Mas este argumento - de que a matriz elétrica brasileira já é "muito renovável" -, e a proteção das populações indígenas, por vezes instrumentalizada para obtenção de vantagens econômicas, não deveria impedir o maior aproveitamento possível de uma energia limpa e abundante no Brasil. É caso para dizer que não deveríamos " amarelar' a economia verde".

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